16/01/2010

A Doença Celíaca e a Saúde Oral


É actualmente reconhecido que, em inúmeros casos, a DC pode permanecer latente por vários anos antes de irromperem os sintomas clássicos (diarreia, anorexia, perda de peso, etc.) ou outros sintomas que, embora atípicos (obstipação, distúrbios psiquiátricos, problemas cutâneos, etc.), já vão sendo reconhecidos pela maioria dos especialistas como interligados com a DC.

Há, no entanto, alguns sinais relacionados com a área da estomatologia que não podem ser desprezados e que, muitas vezes, se valorizados, conduzirão a um diagnóstico precoce da DC em estado latente.

Assim, a hipoplasia do esmalte dentário, que se manifesta clinicamente por uma circunferência ou faixa com irregularidades no esmalte ou por discretas fissuras que podem adquirir uma coloração amarelada ou acastanhada, é um dado a ter em conta no que concerne à DC. Este tipo de situação vem sendo descrita em celíacos desde 1979, tendo sido alvo de estudos na Finlândia e em Espanha.

Outro tipo de manifestação nesta área pode ser o atraso na erupção dos dentes, o tamanho reduzido das peças dentárias e a disfunção das glândulas salivares, sendo que a maioria acontece devido ao défice de absorção de vitaminas e minerais importantes, comum nos celíacos não diagnosticados.

É ainda importante que os profissionais na área da estomatologia estejam atentos a doentes que referem dor na língua, acompanhada de vermelhidão pois, por norma, estas significam que existe um défice de absorção de Vitamina B12, de Ácido Fólico e de Ferro, também comum em doentes celíacos. Também dentro deste grupo se incluem as lesões aftosas (aftas ou “sapinhos”) que ocorrem pelo mecanismo anteriormente explicado.

Por tudo isto, é deveras importante que os profissionais da área da estomatologia conheçam a DC e a saibam relacionar com o tipo de manifestações descritas neste texto pois, na ausência de outros sinais e sintomas, este pode ser o primeiro passo para a detecção precoce de muitos casos de DC.

Carmen G.

3 comentários:

Anónimo disse...

É mesmo verdade!
Sou a única da minha família com a doença celíaca e sou também a única com os dentes amarelados. Até hoje não entendia como é que, tratando tão bem dos meus dentes, os poderia ter tão amarelados?
Celíacos: se os vossos dentes são como os meus (amarelados), acho que não vale a pena recorrem a um branqueamento. Em Julho/Agosto tirei o aparelho dos dentes e, por isso, o meu dentista fez-me um branqueamento. Agora, em Janeiro, os meus dentes voltaram ao mesmo..

Obrigada Sem Estiga. Hoje fiquei a saber porque é que isto acontece comigo. Não é, de facto, por ser descuidada com a higiene oral
:P

Patrícia Gomes disse...

Carmen, uma pergunta. Comentei esta questão com o meu dentista, uma vez que também eu (não obstante os esforços em contrariar esse facto) tenho os dentes bastante amarelos e ele informou-me que apenas encontrava razões para que os doentes não diagnosticados e com vómitos frequentes apresentassem este quadro. confirma a informação? obg,por mais este post esclarecedor!

Sol disse...

Patrícia,

Em primeiro lugar deixe-me dizer-lhe que sou enfermeira e não dentista e, por isso, também não sou a melhor pessoa para explicar esta questão. O que não deixa de ser verdade, contudo, é que tudo aquilo que foi abordado neste texto tem evidência científica!

No meu entender o seu dentista está a ver a questão por um prisma diferente daquele que se pretende, isto é, ele está a associar o amarelo dos dentes ao ácido proveniente do refluxo gastro-esofágico que, realmente, desgasta o esmalte e faz com que os dentes adquiram essa coloração. Faz, por isso, todo o sentido que alguém que vomite muito tenha o esmalte desgastado pelo ácido.

A questão aqui é que nos celíacos a falta de esmalte se deve aos problemas de absorção de que padecem e que não permitem uma correcta absorção das vitaminas e sais minerais importantes, que poderá levar à hipoplasia do esmalte (causando a tal coloração amarelada).

Com uma correcta dieta estes problemas deveriam tornar-se menos evidente, contudo, em muitos dos artigos que consultei dizia que, por vezes, os danos causados ao esmalte são já irreparáveis.

Como lhe disse não sou dentista, contudo, sou celíaca e procuro estudar o mais aprofundadamente que posso cada uma das informações que transmito neste blogue (e que são uma decisão de toda a equipa APC Jovem).

Espero ter ajudado! =)

E à anónima do 1.º comentário agradeço por ter partilhado a sua história, afinal, é destas "pontes" que precisamos para nos sentirmos unidos!

Sem Espiga

Beijinhos,

Carmen G.