08/05/2011

Ce(r)líaco


Descobri que tenho a doença celíaca por volta dos 20 anos de idade, demorou 2/3 anos a ser descoberta. Tive incidentes em criança aquando da introdução das papas com glúten mas nada foi diagnosticado, penso que na altura devido ao desconhecimento, falta de sensibilidade sobre o tema... E apenas posso pensar que como nunca gostei de pão, massas, pizzas, etc, alguns dos principais alimentos proibidos, fui levando uma vida comum, sem grandes incidentes.

Aos 18 anos, com a entrada na faculdade, a alimentação mudou, passou a ser à base de bolachas, cereais, bolos, chocolates. Aos 20, esgotamento, depressão e descoberta da causa de um problema de pele que se agravava com o passar do tempo, gastrite nervosa, perda de peso, eram poucos os alimentos que ficavam no estômago, inclusive alimentos isentos como o grão, o ovo, o leite e a batata não eram suportados. A dermatologista Dra. Margarida Apetato, após biopsia à pele, diagnosticou-me Dermatite Herpetiforme. A cumprir 50% da dieta, obstipação... Dr. Calinas, Gastrenterologista, também provável intolerância à lactose (vómitos, dermatite, cólicas na ingestão de alimentos com lactose). Para além de tudo isto, o ovo está a ser, actualmente, introduzido a pouco e pouco, por ter dado negativo o teste de alergia ao mesmo, a batata, a abóbora e o grão, para além do glúten e da lactose, não entram na minha alimentação, são amidos demasiado complexos que o meu organismo não processa.

Acho importante dizer que apesar de fazer/ter tido um desenvolvimento e uma vida "comum" até ao diagnóstico, a anemia sempre foi uma constante, que independentemente de tudo o que me receitassem nunca passou.

O mais complicado: independentemente de para onde vá, ter que pensar quanto tempo vou demorar (lancheira), não poder partilhar refeições em grupo, jantares de amigos, familiares. Viajar...é difícil...independentemente do que disserem, tentei ir para fora num grupo organizado por uma agência de viagens e não garantiram proporcionar-me alimentação adequada, Marrocos, Índia, nem pensar...sem falar no nosso país...já tive boas e más experiências.

O mais complicado é mesmo não poder ir, seja para onde for, ir, só por ir, sem o peso de mim mesma. No entanto, tento levar uma vida igual à dos "outros", fazendo inclusive perceber a esses outros que sou igual a eles e que quero estar presente, independentemente do que forem fazer.

Uma nota: A dermatite herpetiforme impede-me de tocar em alimentos com glúten e de estar em sítios onde os mesmos sejam manobrados, cozinhados, por causa do vapor e inspiração do mesmo.

Actualmente tenho 29 anos, lido com a doença celíaca há 10 anos. Espero que este testemunho seja útil.

18 de Abril de 2011
Vera de Sousa Santos

Sem comentários: