22/02/2010

A Doença Celíaca e o Cancro


A pedido de muitos leitores do Sem Espiga, a APC Jovem aborda hoje a questão da Doença Celíaca e de uma das suas mais graves complicações: o cancro. Gostaríamos de ressalvar, no entanto, que não pretendemos alarmar e muito menos criar novos medos relacionados com a doença celíaca. Importa, contudo, perceber que o incumprimento da dieta, ainda que de forma esporádica, tem consequências e, apesar do carácter aparentemente “ligeiro” da doença celíaca esta deve ser encarada com seriedade.

De acordo com as guidelines da World Gastroenterology Organisation, o adenocarcinoma do intestino delgado, o carcinoma de células escamosas do esófago e orofaringe, e o linfoma não-Hodgkin ocorrem mais frequentemente em pacientes com DC que em indivíduos pertencentes a grupos de controle. Estas guidelines reforçam, no entanto, que a dieta livre de glúten protege contra o desenvolvimento de doença maligna.

Já Holmes et al. havia demonstrado que o cumprimento de dieta restrita isenta de glúten, reduz o risco de linfoma e de outras doenças malignas. Este autor coordenou um estudo cujos resultados indicaram que o risco de malignidade foi maior no grupo de pacientes que seguiam dieta normal ou com quantidade reduzida de glúten, quando comparado a pacientes que seguiram dieta restrita isenta de glúten durante cinco anos ou mais. Neste último grupo, o risco de desenvolver malignidade a qualquer nível do trato gastrointestinal, não estava aumentado, quando se comparava à população geral.

Segundo Sdepanian et al. todos estes dados (apresentados nos anteriores parágrafos) permitem um inquestionável suporte para aconselhar todos os pacientes com DC à adesão à dieta restrita isenta de glúten por toda a vida.

Em relação às causas que tornam os celíacos incumpridores da dieta mais susceptíveis ao desenvolvimento de doença cancerígena, temos o facto de passarem a maior parte da vida a induzir agressões à sua mucosa intestinal através da ingestão de glúten. Sabemos que o achatamento das vilosidades intestinais pode ser de tal forma grave que se formam feridas na mucosa do intestino e estas lesões podem evoluir para doenças tipo neoplasia. Nunca é demais reforçar que muitas vezes a sintomatologia fica latente durante anos e, aquando do despoletar dos sinais e sintomas pode ser já demasiado tarde.

É sabido também que, mesmo iniciando quimio ou radioterapia, um celíaco necessita manter a dieta sem glúten pois, se por um lado com a quimio/radioterapia as células cancerosas são destruídas, ao ingerir glúten o celíaco continua a contribuir para o desenvolvimento de mais células mutadas / anormais.

Para terminar este texto gostaríamos novamente de referir que não pretendemos causar alarmismos e sim esclarecer sobre as possíveis consequências do incumprimento da dieta. Convém não esquecer que, como referido inúmeras vezes ao longo deste texto, um celíaco que cumpra a dieta é saudável e tem a mesma probabilidade que a restante população de desenvolver doenças cancerígenas.

Carmen G.

n.r. Se desejar aceder à bibliografia que deu origem a este texto basta entrar em contacto com a APC Jovem através do email semespiga@gmail.com

Sem comentários: